domingo, 11 de dezembro de 2016

Eu Sou o Vento (Sarah Tatiana Oku)


Eu sou o vento
E sigo o meu caminho...

Em um parque distante, uma criança segurava um cata ventos.
Por lá eu passei.
O brinquedo rodou e a criança sorriu feliz...

E disse que o vento era bom...

Mas eu nada fiz...
Eu só lá passei por seguir meu caminho...

Do outro lado do parque, outra criança segurava um balão.
Por lá eu passei.
O balão se soltou da mão da criança e ela chorou...
E disse que o vento era mau...

Mas eu nada fiz...
Eu só lá passei por seguir meu caminho...

No céu havia nuvens.
Por lá eu passei...
As nuvens moveram-se acima de uma região de grande seca e chocaram-se umas com as outras.

Então choveu...

As pessoas daquela região sorriram felizes
E disseram que o vento era bom...

Mas eu nada fiz...
Eu só lá passei por seguir meu caminho...

Mais á frente havia outras nuvens.
Por lá eu passei...

As nuvens moveram-se para uma região onde frequentemente ocorriam inundações e chocaram-se umas com as outras.

Uma forte tempestade caiu.
Muitas residências foram destruídas, seres ficaram desabrigados e muitos morreram...

As pessoas daquela região choraram, gritaram e desesperaram-se...
E disseram que o vento era mau...

Mas eu nada fiz...
Eu só lá passei por seguir meu caminho...

Não importa quanto tempo passe...

Os seres continuarão a dizer que apenas por seguir meu caminho
Eu tenho o poder de fazer tristes ou felizes
Aos que veem minha trajetória
De forma certa ou errada, julgando-me constantemente...

Por favor, entendam,
Eu nada fiz...

Eu só lá passei por seguir meu caminho...

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Eu era uma folha branca de papel (Sarah Tatiana Oku)


Contaram-me que, Há milhares de anos, um grande pássaro de fogo voou sobre a Terra e aqui jogou uma semente.
Diziam que a semente era parte do próprio pássaro de fogo.

Eu, particularmente, nunca acreditei nessa história.

Na época em que ouvi isso, eu era uma folha branca de papel.

Um dia, uma criança me encontrou, dobrou-me algumas vezes e jogou-me no ar. Eu saí voando...

Algumas crianças que estavam ali perto disseram que eu era um aviãozinho...
Outras, disseram que eu era um foguete...

Todas queriam brincar e duas crianças acabaram brigando por mim...
Uma saiu chorando...
A outra saiu machucada...

Por que todos sofriam?
Por que não me viram como a folha branca de papel que eu era?
E eu me perdi no ar...

Outra criança me encontrou, amassou e disse que eu era uma bola...
Da mesma forma, vi dois seres brigando e se magoando por uma bola...
E eu, que nem uma bola era... Não entendia...

Por que todos sofriam?
Por que não me viram como a folha branca de papel que eu era?

Porque me viram com formas e nomes, gerando mais uma vez o desejo, o apego e o sofrimento...

E fui abandonada no chão...

Novamente fui encontrada por uma pessoa apaixonada que me abriu e escreveu um poema de amor a seu namorado...
Mas este não a amava...
Ele disse que eu era apenas um poema idiota...
Ela disse que eu era tudo que ela sentia...

E mais uma vez, viram-me da forma errada...
Magoando-se e ferindo-se...

Eles brigaram por mim.
Pelo que viam, ou achavam que viam...
O poema...
E todo amor daquela moça...
Que eu não era...

A moça saiu chorando triste e humilhada...
O rapaz saiu ignorando os sentimentos de outro ser, sorrindo de forma sarcástica...

E eu não entendia...

Por que todos sofriam?
Por que não me viram como a folha branca de papel que eu era?

Porque me viram como um poema...
Como um sentimento...
Gerando o desejo, o apego e o sofrimento...

Então, pensei:
Todos se magoam porque me veem da forma errada...
Eu sou uma folha branca de papel, mas todos os seres me dão formas,
Depois, me dão nomes,
Logo em seguida, se apegam a essas formas e nomes,
Brigam e machucam-se por isso...
Nesse momento, percebi que eu também sofria...
E tentei entender, pela primeira vez, a origem do sofrimento...

Mas,
Eu sou apenas uma folha branca de papel.
Então,
Por que sofro?

Porque me reconheci como um nome: “folha branca de papel”
Criei uma forma e
Desejei ser reconhecida por ela...
Apeguei-me a essa forma e a esse nome...
E isso me gerou o sofrimento...

Busquei minha origem:
Do papel á celulose,
Da celulose á arvore,
Da árvore á semente...

Só então, lembrei-me de minha origem,
Sem me apegar a ela,
E sem deseja-la...
Eu estava livre e já não sofria...

Por quê?
Eu era o grande pássaro de fogo que trouxe uma semente á Terra.
Bom, eu sou e não sou o grande pássaro de fogo...

Por quê?

Porque pássaro de fogo é somente um nome...

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Por que choras? E... por quem choras? (Sarah Tatiana Oku)



Sarah, quem és tu?
Por que choras?

E...
Por quem choras?
É por ti?

Sim e Não.

Choro pela natureza entregue com tanto amor à Terra e destruída pelo ser humano.

Mas...
Tu és a natureza?

Sim e Não.

Sou energia consciente manifestada de forma diferenciada,
Com funções diferenciadas,
Mas, essencialmente, eu a natureza somos a mesma energia em nossa totalidade.

Então...
Por que choras?

E...
Por quem choras?
É por ti?

Sim e Não.

Choro por todos os animais...
Criaturas que vieram à Terra no intuito de evoluir, mas vejo-os sendo torturados e dizimados com crueldade pelo ser humano.
Mas...
Tu és os animais?

Sim e Não.

Nossa consciência, função e evolução são distintas,
Mas, essencialmente, em nossa totalidade, somos energia manifestada de forma singular.

Então...
Por que choras?

E...
Por quem choras?
É por ti?

Sim e Não.

Choro pelo ser humano em seu ciclo ininterrupto pela Roda de Sansara...

Choro pela ignorância do ser que adentrou o mundo das ilusões apegando-se a um conceito de um “eu” individual, uma personalidade separada...

Choro pela ignorância do ser que o leva a desejar e apegar-se a uma ilusão que ele considera real...

Choro pela ignorância do ser que está dormindo e não quer despertar...

Choro pela ignorância do ser que desconhece a unidade, e, desconhecendo o que é real: machuca-se, tortura-se e faz sofrer...

Choro pela ignorância do ser que culpa o externo por seu sofrimento e não reconhece a responsabilidade por seus atos, pensamentos e ações...

Choro pela ignorância do ser que, como um deserto...
Vive de miragens...

E o ser humano vive, morre e mata por elas...

Mas...
Tu és o ser humano?

Sim e Não.

Assim como o ser humano, já tive conceitos de uma personalidade separada,
Já tive desejos e apegos e sofri por eles...
Já considerei real o que na verdade é ilusão...

Mas,
Tive Mestres e amigos que me ensinaram:

Que existe o sofrimento a partir do nascimento e da existência...
Que há uma origem para esse sofrimento...
Que existe um fim para o sofrimento...
Que existe um caminho para a extinção desse sofrimento...

Então, eu entrei no caminho...
Esforcei-me para descobrir a realidade...
Passei anos na Terra tentando descobrir por que choro e por quem choro...

E você descobriu?

Sim.

Então, me digas:
Por que choras?
E...
Por quem choras?
É por ti?


Sim e Não.